Organização Mundial de Saúde estabelece 20 profissionais para cada 100 mil habitantes; Londrina, que precisaria de 70 na rede pública, tem 57 vagas, mas só 43 estão preenchidas
“Misericórdia. Só por Deus. Fiquei sete meses para conseguir uma consulta com pediatra para minha filha.” Na fila de espera do Centro Municipal de Saúde, zona sul, Patrícia Neves Ramos, 26 anos, está angustiada com a dificuldade para conseguir atendimento médico. No posto de saúde do Jardim União da Vitória, zona sul, Márcia Leopoldo da Silva, 23 anos, mãe de quatro crianças, vive a mesma situação. “Nas horas de emergência, quando a gente mais precisa, não tem pediatra aqui e encaminham a gente para o Hospital da Zona Sul.” No posto de saúde do Jardim Marabá, zona leste, é Adriana Camilo, 28 anos, mãe de dois filhos que denuncia: “Nunca tem pediatra. Uma semana a gente consegue atendimento, depois fica dois meses sem.”
A coordenadora desse posto de saúde, Irene Jorge Machado, afirma que hoje a unidade tem um pediatra para uma demanda que, às vezes, chega a 520 pessoas em um só dia. “Já teve manhã que atendemos 450 pessoas.” Segundo ela, é muito difícil conseguir pediatra para trabalhar no posto de saúde. “Hoje precisaríamos de mais um plantonista clínico geral, para treinarmos para atender criança”, afirma.
A falta de pediatras na rede pública de saúde é um problema antigo, ainda sem solução. O diretor de Gestão do Trabalho e Educação em Saúde, da Secretaria Municipal de Saúde, Pedro Sperandio, afirma que hoje há 57 vagas para pediatras na rede pública de Saúde (são 61 unidades) e só 43 estão preenchidas.
“Temos dificuldade em conseguir pediatras. No ano passado foram necessários três concursos públicos para preencher cinco vagas”, afirma o diretor. “Vamos abrir concurso para preencher essas 14 vagas, precisamos ver se haverá procura.” Segundo ele, ainda não há previsão da data exata de realização do concurso público, que prevê contratação também de médicos de outras especialidades e de técnicos. “Já foi aprovado pelo prefeito [Barbosa Neto] e agora está tramitando na Secretaria de Gestão Pública.” Além das 14 vagas não preenchidas, Sperandio afirma que há estudo para ampliação de mais 10 vagas para pediatras plantonistas, para atender a demanda atual. “São muitas as solicitações que chegam das unidades básicas de saúde.”
Segundo o diretor do departamento de pediatria da Associação Médica de Londrina (AML), Milton Macedo, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelece como referência 20 pediatras para cada 100 mil habitantes. Londrina tem 350 mil habitantes atendidos pela rede básica, de acordo com dados da secretaria Municipal de Saúde, o que exigiria 70 pediatras na rede.
Pediatras estão migrando para outras áreas, diz médico
O pediatra Milton Macedo, que também é presidente do departamento científico de defesa profissional da Sociedade Brasileira de Pediatria, afirma estar havendo um “aviltamento dessa especialidade provocado pelo baixo salário”. Na rede pública, segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a remuneração por 20 horas de trabalho é de R$ 2.600,00 para qualquer especialidade.
Embora nas unidades básicas o número de pediatras esteja abaixo do que recomenda a OMS, Macedo lembra que, se for considerado o número de profissionais em todo o Município, a situação se inverte. Especificamente com 500 mil habitantes, diz ele, Londrina deveria ter 100 pediatras e tem 130. “Estamos com 30% a mais do determinado pela OMS, mas nos próximos anos vamos enfrentar problemas, pois há um esvaziamento [na especialidade]”, afirma.
Macedo explica que a situação do pediatra é a mais grave. “As outras especialidades têm outros procedimentos que agregam valor. Um cardiologista solicita eletro, faz teste de esforço. O neurologista também solicita outros exames. O pediatra tem só a consulta”, afirma.
O resultado, segundo Macedo, são pediatras migrando para outras áreas, outros com excesso de carga horária ou ainda o desinteresse pela especialidade. “Muitos pediatras estão se tornando gestores, auditores de contas de plano de saúde. Eles estão migrando para a área administrativa”, afirma.
Secretário minimiza problema
O secretário municipal de Saúde, Agajan Der Bedrossian, não reconhece a dificuldade de conseguir médicos pediatras para a rede pública. “Não vou antecipar o problema. Temos um concurso público sendo preparado. Não dá para saber se não haverá procura suficiente para preencher as 14 vagas.”
No entanto, a falta de médicos interessados na especialidade já é percebida também nos cursos de residência médica, onde sobram vagas. No Hospital Universitário (HU), segundo uma médica que não quis ser identificada, foram necessários dois concursos para preencher as oito vagas em pediatria.
Alguns têm jornadas de até 60 horas
Os pediatras que se mantêm na área estão trabalhando em vários lugares para garantir maior remuneração. “Tem pediatra com 60 horas semanais, que trabalha em vários lugares”, afirma Milton Macedo. A outra situação é a encontrada nas faculdades de medicina. “Sobram vagas na residência para pediatria”. Para o diretor do departamento de pediatria da AML é preciso maior valorização desse profissional para evitar uma situação ainda mais grave. “No Brasil todo o quadro só não é pior porque o coeficiente de natalidade caiu de 2,5 há cinco anos para 1,8.”
A situação também é verificada na rede privada. “A Agência Nacional de Saúde autoriza reajuste anual para as operadoras de planos de saúde, que há cinco anos não repassam para os médicos’, afirma Macedo. “Nos hospitais, nas Unidades de Terapia Intensiva (UTIs) o pediatras não têm 13º salário, férias. É um aviltamento muito grande.”
FALTA DE PEDIATRAS...
Falta de pediatras agrava precariedade do serviço público de saúde 27, abril, 2009 Ir para os comentários Deixar um comentário É cada vez mais grave a carência de pediatras no serviço público de saúde da Bahia, e até mesmo em alguns hospitais particulares. O motivo é o “a remuneração vil que essa especialidade recebe, além das péssimas condições de trabalho no setor público”, conforme declarou há pouco ao site da Tribuna o médico Francisco Magalhães, vice-presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia – Sindimed.
Magalhães informou, inclusive, que minutos antes de nos dar esta entrevista havia recebido telefonema de um colega, cirurgião, da cidade de Coaraci, queixando-se ao sindicato de estar sendo pressionado pela diretora do hospital público da rede estadual para atender na pediatria.
“Ele está temeroso e pediu ao Sindimed, inclusive, para entrar em contato com o Ministério Público do Estado da Bahia, pois sua especialidade é cirurgia e a pediatria exige uma formação bastante específica, devido às singularidades do atendimento”, afirmou o vice-presidente do sindicato.
GANHAM MAL
A particularidade do atendimento pediátrico reside no fato de que a criança, pelo menos até uma certa idade, é naturalmente incapaz de descrever os sintomas (às vezes ainda nem sabe falar), o que obriga o médico a ser até mesmo intuitivo e, para tanto, ele tem que ter uma formação bastante específica, além de experiência no trato com crianças.
O vice-presidente do Sindimed confirma que o número de pediatras “tem diminuído sensivelmente, principalmente no serviço público”. Magalhães destaca ainda o fato de a própria formação de pediatras estar se reduzindo cada vez mais. “Um exemplo disso são as residências médicas em pediatria, que não têm mais o total de suas vagas preenchidas”, argumenta.
Francisco Magalhães explica que a formação básica em medicina engloba as especialidades de pediatria clínica, obstetrícia e cirurgia. “No entanto – destaca –, clínicos e pediatras não têm muita valorização, porque não geram procedimentos (exames etc.), ou seja, ocorre apenas a consulta e, hoje, o plano de saúde que melhor paga remunera cada consulta com apenas R$ 38.”
Além da “remuneração vil”, Francisco Magalhães aponta outro fator para o número perigosamente reduzido de pediatras no serviço público de saúde: “As condições de trabalho são as piores possíveis.”
NO PAÍS
Justiça se faça, o problema não exclusivo da Bahia. No Espírito Santo, por exemplo, a escassez de pediatras no serviço público e mesmo em alguns hospitais privados gerou protesto na semana passada, e, em reportagem na TV, uma mulher mostrava o filho de cinco anos que aguardava atendimento há dois dias, embora apresentasse graves sintomas de doenças de pele, além de febre.
Em Teresina (PI), os vereadores Décio Solano (PT) e R. Silva (PP), da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, entregaram ao presidente da Fundação Municipal de Saúde (FMS), Firmino Filho, relatório de visitas feitas aos hospitais municipais da capital piauiense, onde encontraram falta de pediatras e de clínicos gerais.
NO EXTERIOR
Nem mesmo é “privilégio” do Brasil, embora a situação aqui seja considerada bem mais grave, notadamente no Nordeste, onde as crianças adoecem muito mais por falta de saneamento básico e de outros cuidados: o site centroportimao.com, de Portugal, por exemplo, aponta que o país tem 1.400 pediatras, e, segundo a Sociedade Portuguesa de Pediatria, são necessários pelo menos mais 1400. É que cada especialista tem a seu cargo perto de 1.700 mil crianças. TribunadaBahia
QUAL A SUA OPINÃO SOBRE A FIXAÇÃO DO PISO SALARIAL PROFISSIONAL DO MÉDICO?
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