sábado, 25 de julho de 2009

INTERRELACIONAMENTO PEDIATRA-MÃE-FILHO

O interrelacionamento médico-paciente, no que diz respeito à Pediatria, envolve um aspecto sui generis, visto que, quase sempre, há necessidade da existência de um intermediário, a mãe, que é por muitos considerada "um mal inevitável a ser suportado", que, convenhamos, é um exagero.
Diz-se,popularmente, que a primeira impressão é a que fica.E é justamente isso que se constata no dia-a-dia, quando a mãe, com sua criança, entra no consultório e um mútuo relacionamento se estabelece(ou não) ao contato inicial.
Atentando-se para o comportamento da mãe, procura-se avaliar o seu grau de maturidade, de ansiedade e de interesse.Se ela é mal estruturada e insegura, procurará no médico a solução dos problemas inerentes a si e a seu filho e, se o pediatra,por sua personalidade, adota uma posição autoritária e onipotente, ela se sentirá complementada e perfeitamente adaptada a esse tipo de relacionamento, em que pese a atitude impaciente,crítica e, às vezes, hostil de se lhe devote.
Esse tipo de relacionamento é,contudo, frágil, na medida em que o elo se quebra assim que, numa doença grave ou crônica, o pediatra não consegue atender às suas(dela) expectativas.
Se,por outro lado, a mãe é dotada de maturidade e assume integralmente o papel que lhe cabe, há uma tendência à procura de um médico dotado de empatia, afeto e segurança, com quem ela possa dividir as responsabilidades, estabelecendo-se, desse modo, um relacionamento que se reputa como ideal, imprescindível para o processo de cura, em que, como descreveu Balint, "o médico atua como remédio".
Há situações, entretanto, em que se vê como necessária a adoção de um comportamento determinado,seguro, com imposição da autoridade, mas sem ser autoritário, a fim de que se estabeleça um relacionamento de confiança e traquilidade.
Isto é o que acontece num atendimento de urgência ou emergência prestado a uma criança que nos é trazida pelos pais aflitos e desespeerados.Nesse momento, se se vislumbra no médico alguma indecisão ou insegurança, põe-se a perder um bom relacionamento entre o pediatra e os pais, com consequências sérias no pronto e adequado tratamento do paciente.
Uma situação peculiar, com que o pediatra se depara frequentemente, é aquela em que a criança é trazida pela avó em lugar da mãe.Nesse caso, faz-se mister que se conquiste, de imediato, a sua simpatia, dando-lhe a entender que acatamos a sua opinião e a vivência que os cabelos brancos lhe conferem.
Feito isso, será grande a possibilidade de se estabelecer um cordial relacionamento e de se conseguir uma obediência às orientações prescritas.
Já com as mães contestadoras, que tentam impingir as suas opiniões sem fundamento, exigindo medidas descabidas, como, por exemplo, exames complementares desnecessários para o seu filho, a fim de que não se crie um relacionamento beligerante, costuma-se adotar uma atitude firme e fundamentada, tomando-se as rédeas da situação, ganhando-se, através de argumentos científicos, claros e convincentes, a sua confiança.
Em situações extremas, em que não se consegue chegar a um denominador comum, é preferível, em benefício da criança, que se lhe indique um outro profissional, a manter um relacionamento desgastante,negativo e improdutivo.
Com referência ao relacionamento direto com o paciente pediátrico, é fato comum deparar-se com crianças de diferentes temperamentos, mas as que causam maior trabalho são, indubitavelmente, aquelas rebeldes, agressivas, que não se deixam examinar, adotando uma atitude de desconfiança de tudo e de todos, pois, o pediatra, para elas, representa um mundo de terror, criado na sua imaginação, muitas vezes pelos próprios pais, quando ameaçam levá-las ao médico se não comerem, se não se comportarem direitinho ou se não forem boazinhas.
Nessas situações, em que o exame se impõe, e quaisquer tentativas de persuasão são infrutíferas, a única conduta viável é a realização do exame de modo enérgico,mas com tranquilidade, evitando-se machucá-las.
O bom relacionamento, nesses casos, só virá com o passar do tempo,na medida que se for conseguindo diminuir as sensações de insegurança, abandono e medo, que giram em torno da criança.
Acredita-se que, nesse tríplice relacionamento, o nível de qualificação profissional vem em segundo plano, importando, primordialmente, mais a maturidade do pediatra, como pessoa humana.Porém, isso só será alcançado com o decorrer do tempo e com os ensinamentos da vida.
Finalmente, pode-se concluir que o bom pediatra é aquele que consegue reconhecer a espécie de relacionamento mais adequado para cada tipo de personalidade da mãe, pois, cada situação terá sua particularidade, não sendo possívdel estabelecer um padrão fixo,definido,de comportamento.
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AUTOR: PEDRO VIEIRA CARRANCHO-médico pediatra.E-mail:pedrocarrancho@hotmail.com

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